Qualquer Sentimento é Bem-Vindo!

Vivemos tempos complicados e tristes de alguma forma, sem dúvida. Quem tem emprego, tenta agarrar-se o mesmo. Quem não tem, procura. Quem tem e acha que está na hora de ser feliz, vai (é o caso de um jovem que conheço). Somos escravos do relógio, não conseguimos ficar deitados até mais tarde, ler um livro, ouvir uma música e sentir mesmo que naquelas palavras está o sonho de um mundo melhor. Tanta coisa para fazer e resta pouco tempo para sentir.

Acho que se pode entristecer por vários motivos ou até por nenhum motivo aparente. A tristeza pode ser por nós mesmos ou pelas dores do mundo, pode advir de uma palavra ou de um gesto, mas sempre que ela aparece, eu recebo-a, porque existe uma alegria inesperada na tristeza, que vem do facto de ainda conseguir senti-la!

Para mim, e deixando de fora preferências, qualquer sentimento é bem-vindo, mesmo que não seja uma euforia, uma realização, um entusiasmo, um alívio. Pode ser uma melancolia ou por vezes uma tristeza até. É que sentir é um verbo que se conjuga para dentro. Sentir alimenta, sentir ensina, sentir aquieta.

O sentir não pode ser ouvido, apenas auscultado. Sentir e fazer, ambos são necessários, mas só o fazer rende dinheiro, contactos, diplomas, convites, aquisições. Mas até parece que sentir não serve para subir na vida, ah não que não serve!

Infelizmente, vê-se muito nos dias de hoje, que uma pessoa triste é evitada. Não cabe no mundo da propaganda dos anúncios dos telemóveis, das festas das cervejas nacionais que não param de competir uma com a outra, dos festivais de Verão em que não há dinheiro e o país está em crise, mas toda a gente paga entre € 60 / €90 para 3 dias. Tristeza parece uma praga, lepra, uma qualquer doença contagiosa, um estacionamento proibido. OK, tristeza não faz realmente bem à saúde, mas a introspecção é um recuo providencial, pois é quando nos silenciamos que melhor conversamos com os nossos botões. E dessa conversa sai luz, lições, sinais, e a tristeza acaba por sair também, dando espaço para uma alegria nova e revitalizada. Triste, triste, meu caros, é não sentir nada.

Versão adaptada por mim, original da Grandiosa Martha Medeiros

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